"Olhos nos Olhos" terminou no passado dia 11 de Julho. Hoje apresentamo-lhe quatro balanços realizados por quatro foristas do
Fórum Novelas Nacionais. São eles Nuno Cunha (
Soap.actual), Conceição Palma (
São), Bruno Afonso (
[B']runo) e João Andrade (
Johnny), que se ofereceram a dar o seu contributo a este balanço que tem como base as opiniões de cada um. Para ler mais opiniões, consulte o
tópico de Olhos nos Olhos no nosso Fórum.
JOÃO ANDRADECom o nome provisório "Face do Mal", as especulações sobre a nova trama de Rui Vilhena começam a surgir. A novela começava a ganhar cada vez mais protagonismo, não só por parte da imprensa, mas também pela descrição que o próprio autor fazia dela. Este apenas frisava "
que iria ser um registo completamente diferente do habitual, com emoção e trauma, que levaria as pessoas a pensar através de que observavam.".
Já com a sinopse relatada, a história tinha tudo para prender os espectadores ao ecrã, apesar de inicialmente concordar que o elenco estava longe de ser o perfeito para uma novela de Vilhena, pois não estávamos perante nomes da principal "elite TVI". Da história ainda pouco era adiantado, acontecimento vulgar, pois estamos a falar do autor Rui Vilhena, em que o secretismo é uma principal arma. Sabia-se que a história principal iria rondar através do Paulo Pires em dose dupla, desempenhando
Victor e
Vasco, dois irmãos gémeos, ambiciosos, com o único objectivo de ganhar dinheiro fácil, muito dinheiro, onde o limite é "a
lto, onde eu quiser", palavras proferidas por
Victor no primeiro episódio.
Tudo se começava a desenvolver... A curiosidade pela estreia de uma nova novela com marca TVI começava a aumentar, não só por parte dos foristas do
Fórum Novelas Nacionais, mas também pela generalidade das pessoas. Até que chega ao dia da antestreia de Olhos nos Olhos, nome verdadeiro da novela. Esta antestreia decorreu na "Gala da Ficção Nacional", sendo das antestreias mais vistas de sempre, pois segundo a
Marktest, cerca de 4,7 milhões de portugueses estiveram em contacto com essa mesma gala. Das antestreias mais brilhantes que vi, um vídeo com apenas 9.30 minutos de duração, mas muito completo, que referia as principais histórias criadas, com uma voz off surpreendente, capaz de cativar o espectador. As imagens mostravam acontecimentos diferentes do habitual, com uma banda sonora perfeita, que fez com que eu pensasse logo de seguida que "
esta novela vai-me surpreender".
Eis que chega o dia que aguardava há muito... o dia da estreia do produto que tinha os ingredientes necessários para surpreender... o dia da estreia que ditava o regresso do Rui Vilhena... o dia da estreia de Olhos nos Olhos! O episódio decorria normalmente e eu cada vez mais me surpreendia, observava interpretações brilhantes, temas fortes, imagens fenomenais, diálogos diferentes do habitual, sempre com carisma social, característico do autor.
Os núcleos começavam a interligar-se e as personagens a darem-se a conhecer. Foi, na minha opinião, uma estreia absolutamente fantástica que recordo, como se fosse hoje, de cenas que me fizeram prender completamente ao ecrã. Um exemplo? Relembro a cena da
Manuela (Rita Salema), a entrar pela igreja e a falar da maneira que falou, com a capacidade que teve para demonstrar o sentimento de uma mãe ao ver o seu filho partir para a guerra. Simplesmente uma cena fabulosa e que relembro sempre quando vejo a Rita Salema!
Uma estreia que valeu o primeiro lugar nas audiências do dia. Os episódios iam passando, as histórias e os mistérios iam sendo desenvolvidos e ia tendo cada vez menos adeptos, o que se verificava com a quebra de audiências, dia após dia. Mas isso, pouco ou nada me interessava, uma vez que eu ia acompanhando todos os episódios sem dar audiência à novela, pois gravava todos os dias.
Cada vez mais colado neste produto de ficção ia observando a interpretação dos actores e ficava impressionado com a capacidade de entrega de grande parte deles. Com o desenvolver ia visitando o
Fórum Novelas Nacionais e reparava em comentários que não entendia, comentários que afirmavam que a história estava a perder o sentido, quando eu achava que não, que cada vez mais estava empolgante... a história do anexo, a história de adopção por parte de pais homossexuais, a história do amor na velhice, a história do tráfego de órgãos... tudo isso fazia sentido!
Quanto às personagens mal construídas, sou da opinião que nenhuma personagem foi escolhida ao acaso. Todas elas tinham o seu protagonismo, todas elas eram necessárias para o desenrolar da história. Ponto característico de Vilhena, em que usa as personagens com um objectivo final, não as usa por usar, como observamos em outras novelas, que grande parte são inseridas na história ao acaso. Em "Olhos nos Olhos" isso não aconteceu, até porque as chamadas personagens secundárias, tinham o seu momento de protagonismo, como exemplo posso referir uma simples recepcionista de uma empresa, que sabia desde sempre os mistérios da história, envolvendo-se neles. Outro exemplo é o próprio
Einstein, um cão que desvenda a dúvida final de toda a novela.
Em Julho deste ano, a novela caminhava a passos largos para o final, iam entrando e saindo personagens, os mistérios começavam a ser conhecidos... Eis que chega o dia do final da trama de Vilhena; assim como na estreia, a ansiedade era grande, e apesar da novela não ser um fenómeno audiométrico, a curiosidade dos espectadores menos assíduos também era evidente, pois tinha sido das novelas nacionais mais faladas de sempre, o que lhe valeu a liderança também no seu último episódio. E depois de observados os fabulosos 'últimos episódios', principalmente o penúltimo, maior era a curiosidade dos espectadores.
De acordo com o final, posso afirmar que uma novela destas merecia um final mais bem conseguido, mas mesmo assim surpreendeu. Para descrever a minha opinião, e tendo em conta o pedido, vou analisar o final de cada um dos intervenientes da história:
- Paulo Pires (Victor/Vasco): Afirmo que não era grande fã de Paulo Pires, digo mesmo que não gostava, e quando soube que era o protagonista não fiquei 'muito feliz'. O que é certo é que me surpreendi mesmo. Desempenhou o papel de uma maneira extraordinária. Quanto às personagens gostei do seu desenrolar, e acho que o final é justo para ambos, a prisão e a morte.
- José Wallenstein (Leonardo Viana Levi): Desempenhou uma personagem rude, que vivia e fazia tudo em função de um amor passado. Um caso doentio que fazia dele uma pessoa fria e calculista, matando as próprias mulheres. Acho que a prisão foi suficiente como final da personagem, mas podia ser melhor aproveitada com a carta que ninguém sobe o que estava escrito, escrita pela mãe. Eu usaria a carta para desvendar o final de todas as personagens, em que a mãe contava as novidades que se passavam cá fora em voz off.
- Paula Neves (Beatriz): Quanto à interpretação da Paula gostei, diferente do habitual, desempenhando uma mulher apaixonada, mas com medo de viver ao lado da pessoa que amava, em que o objectivo era descobrir todos os mistérios que Leonardo estava envolvido. Vilhena gabou muito o seu desempenho. Quanto ao seu final, foi um final esperado, e uma viagem é sempre motivo para 'esquecer' e partir para novas aventuras, à procura de tudo novo, por isso foi do meu agrado.
- São José Correia (Susana/Germano): Uma personagem muito particular que sabia de tudo, manipulando grande parte das personagens. No fundo, fez tudo para estar mais próximo de quem amava,
Leonardo. O final dela prova que as pessoas que manipulam poderão ter sucesso, e triunfar. Ela triunfou em toda a novela. Gostei desta personagem. Final merecido, rica e sem ninguém que lhe 'atormentasse’.
- Victor Norte (Augusto) - Apesar do seu curto desempenho gostei da sua interpretação, um homem pacato, mas comandado pela mulher. A sua morte trouxe um melhor desenrolar na história, por isso considero que foi necessária.
- Rita Salema (Manuela) - Brilhante desempenho nos primeiros episódios. Acho que foi uma personagem que merecia mais protagonismo. No meio andou à deriva, sem objectivo concreto, apenas trabalhava arduamente para sustentar um filho. Merecia um melhor final, e não acabar numa cozinha como acabou, com um convite de cinema.
- Marcantónio del Carlo (Rogério) - Não gostei muito da sua interpretação. Acabou por sair da história mais cedo, talvez porque não era fundamental que permanecesse naquela altura. Final merecido, ficar sozinho.
- Luísa Cruz (Rute) - Desta personagem só tenho a dizer: Fenomenal! Sem dúvida a melhor interpretação da novela, esteve perfeita. Adorava quando ela entrava em cena, os discursos, os gestos, tudo era pensado em pormenor. Gostei mesmo! Quanto ao final, acho que foi justo, não precisava de mais dinheiro dos outros, pois iria com o seu 'esforço' começar a trabalhar.
- Marco Delgado (Simão) - Gostei da sua participação, aos poucos ia construindo a sua importância na história, mas não gostei do final. Acho que devia ficar com a mulher que sempre amou. E que a história não devia terminar com a sua imagem com o cão ao colo. Muito mal pensado!
- Sofia Grillo (Catarina) - Gostei! Uma personagem que tinha a sua importância, como a nora não muito desejada por parte de uma sogra que amava o filho. Acho que o final foi merecido, todos nós merecemos uma segunda oportunidade.
- Vera Alves (Sílvia) - Uma doméstica que escondia o segredo da paternidade da filha. Com o avançar da história, foi-se tornando importante, ou não era ela a melhor amiga da mulher que queria descobrir a história principal. Gostei do seu final, uma viagem em busca de novas oportunidades, ao encontro da filha, com a amiga de sempre,
Beatriz! Solteiras e, pelo aspecto ricas.
- Gracinda Nave (Nátalia) - A neurótica da família. Sempre com azar ao amor. Acho que foi bem pensada esta personagem. Por isso, acho que depois de tanto azar, merecia um final ao lado de alguém que a amasse, do
Simão.
- Bárbara Norton de Matos (Eva) - Uma neta que sofria com os avós, pataca, simples e boa pessoa, que fazia de tudo para ajudar os outros. Não gostei do seu final. Devia ser contratada para uma orquestra mais conceituada do que a do maestro, num país qualquer. Final muito rápido, pouco entendido. Gostei da
Eva, não gostei do final dela.
- Patrícia Tavares (Vera) - Bem, quanto à Patrícia, acho que esteve bem, uma interpretação boa, que lhe valeu ser já uma aposta da equipa TVI. Quanto à
Vera, acho que foi-se desenrolando bem, os traumas de traição e do filho, fez dela uma pessoa forte. Detestei o fascínio pelos ET's no final, só foi importante para desvendar o mistério do
Simão. Assim como o
Jonas e
Catarina, acho que devia ficar com o marido. Se o homem perdoa a traição, porque é que a mulher não? Não percebi.
- Carlos Vieira (Artur) - Bom desempenho, mas como disse em cima, deveria ter voltado no final, e ficar com a mulher e com o filho, saiu da história muito à pressão, e nunca mais se ouviu falar dele. Apenas vi o filho a ligar-lhe uma ou duas vezes. Não gostei do seu final.
- Ana Moreia (Simone) - A traumática da história. Para primeiro papel em televisão, gostei mesmo do seu desempenho. Encarou bem a personagem. Mas também teve um final incerto. Acho que poderia voltar para onde sempre foi feliz, Itália.
- Nuno Távora (Mário) - Gostei da sua personagem, do seu desenrolar e da interpretação do Nuno. Desenvolver um homossexual, com os objectivos que ele tinha, na sociedade onde vivemos não é fácil, mas na novela pareceu que sim e, depois de tanto esforço, venceu, o que poderá ter aberto algumas mentalidades mais fechadas. Acabou com a
Cátia. Final bem pensado.
- Pedro Lamares (Jonas) - Gostei da interpretação, o que já faz dele um promissor actor na ficção em Portugal. Quanto à personagem, penso que teve um final merecido, ficou junto de quem realmente amava.
- Lúcia Moniz (Cristina) - Correu-lhe bem o primeiro trabalho, depois da vinda da estação concorrente. Funcionou bem como personagem, teve o seu merecido protagonismo, e apesar de cúmplice do vilão da história, sempre se quis vingar dele. Mostrou que a gravidez ainda pode controlar um ser humano, mesmo que seja falsa. Final digno, voltar às origem, começando tudo novamente.
- Diogo Amaral (Joaquim) - Mostrou o seu talento enquanto actor na pele de uma vilão. Gostei do seu curto desempenho, mas concordo que tenha sido o fundamental. Abordou um tema nunca antes visto numa novela. Quanto ao seu final foi incerto, nada se soube, por isso não concordo.
- Cristóvão Campos (Daniel) - Das melhores interpretações do núcleo jovem da novela. O Cristóvão surpreendeu enquanto actor. Gostei da personagem, do seu desenrolar, e das formas que ele usava para a caracterizar. O final foi estrondoso! Adorei. Diferente e original. Mereceu este final.
- Joana Duarte (Anabela) - No início pouco importante, mas com o desenrolar foi-se tornando cada vez mais indispensável. Foi através dela que descobrimos todo o mistério do anexo, com a sua brilhante interpretação. Gostei da
Anabela. Quanto ao final, gostei da forma como terminou, mas pedia-se mais qualquer coisa, por exemplo, do filho nada se sabe, por isso considero que foi incompleto.
- Frederico Barata (Miguel) - Actor que Vilhena continua a apostar, tornando-se quase exclusivo dele, por isso considero que esteve razoavelmente bem. Aos poucos ia interagindo de forma mais forte na história, a tentar descobrir o que aconteceu a mãe. O envolvimento com a
Susana proporcionou cenas boas. E soube tratar do recado. O final foi rápido, no entanto, gostei. Teve o que desejava, o pai preso e a banda formada.
- Sara Salgado (Célia) - Cresceu muito desde "Morangos com Açúcar", mas depois do seu enorme protagonismo inicial nesta novela, foi decaindo com o passar do tempo. Não gostei do final, ficou incompleto, não ficou definido se ficou solteira ou com o marido. Para mim, ficava com
Hugo. Era o mais justo, depois de tanto amor ao longo da história.
- Francisco Corte-Real (Hugo) - Prometeu cenas emotivas e cumpriu, principalmente na tropa. Gostei da sua interpretação ao longo da história. No entanto, não gostei do seu final. O mais justo era ter ficado com a pessoa que sempre amou,
Célia. E não acabar na cama como uma pessoa que nunca vimos envolvimento nenhum. Mal pensado.
- João Cajuda (Tobias) - Uma personagem simples, para um actor simples. Interpretação normal. Nem gostei, nem desgostei, fez o seu trabalho. Originalidade pedia-se, uma vez que é sempre traído pelo pai em novelas. Pedia-se mais garra por parte dele. Quanto ao final, nem bom, nem mau. Talvez poderia ter pesquisado outra ‘miúda’ na net.
- José Mata (Rodrigo) - Assim como o Cajuda, uma interpretação normal. No entanto, acho que o
Rodrigo foi melhor construído. Ia ganhando novas formas de mostrar o seu talento, e até sabia aproveitar. Teve cenas emotivas, e teve diálogos hilariantes com a mãe. Quanto ao final, não gostei, devia ter continuado com a
Mila, casarem e terem filhos, podia ser que o preconceito da mãe fosse ultrapassado.
- Sofia Ribeiro (Lorena) - Bem, que interpretação! Quem a viu em "Morangos", não diria que era a mesma. Gostei da sua entrada na novela, a chegada de comboio, com uma banda sonora fenomenal a acompanhar. Gostei da personagem. Esteve excelente. Emotiva e com garra necessária. Fazia chorar e fazia rir de uma maneira impressionante. Grande aposta. Quanto ao final, outro incerto, nada se soube a não ser a ida para o Brasil. Acho que devia incriminar o Joaquim, voltar a Portugal, continuar o estudo de medicina.
- Ana Catarina (Filipa) - Gostei. Acho que devia ser melhor aproveitada como actriz. Acho que demonstrou que tem potencial para mais do que uma secretária. Nada se soube do final, a não ser que ficou a trabalhar na empresa, mas era justo se lhe atribuíssem um cargo superior, por isso não concordo com o final.
- Mina Andala (Mila Jamba) - Apesar da sua curta interpretação, gostei. Para quem estava habituado a vê-la apenas na comédia, acho que pode resultar bem com papéis mais sérios. Os confortos com a Rute eram prova disso. Discordo do seu final, acho que deveria ter acabado com o
Rodrigo, nas mesmas condições que referi na personagem dele.
- Rui Porto Nunes (Gustavo) - Assim como o Cajuda, tornou-se numa interpretação banal. Não desgostei, nem amei, esteve normal. O que poderia ter-se demonstrado mais, principalmente na parte do romance impossível com a
Sofia. Como esteve normal, teve um final normal, ficou por casa.
- Sara Barros Leitão (Sofia) - Gostei da interpretação. Acho que foi a necessária, emotiva quando tinha de ser, cómica quando tinha de ser... esteve bem. Quanto ao final, acho que era o mais apropriado, estudar fora é sempre uma maneira de esquecer um amor impossível, fazendo as pazes com a mãe, foi justo.
- Irene Cruz (Madelena) - Adorei! Esteve bastante bem. A experiência como actriz também ajuda, mas para mim este foi o melhor papel feito para ela na televisão. Acho que teve um final merecido, depois de tanta confusão, uma merecida viagem. No entanto, acho que a carta que mandou ao Leonardo podia ser melhor aproveitada, e que devia ser ela a ler em voz off essa mesma carta, em que constava os finais de todos, uma vez que no vídeo de apresentação da novela, afirmava-se "
está a chegar a mãe de todas as famílias" e era ela, sem dúvida, a mãe da novela.
- Margarida Carpinteiro (Ângela) - Foi uma interpretação normal, para uma actriz deste patamar. Gostei, acho que fez o seu trabalho, como mãe dos protagonistas. Só achei estranho não conhecer os filhos, mas gostei. Quanto ao final, incerto, nada de soube. Acho que deveria acabar com
Dionísio, fazendo a viagem, com ele e com a irmã.
- Vitor de Sousa (Carlos) - Gostei da construção desta personagem. Achei fascinante o lado do cinema dele, a aplicação do cinema aos acontecimentos da novela era fabuloso. Gostei do Carlos! Apesar de achar que devia acabar ao lado de
Manuela, a escrever filmes, e a tomar conta da casa de
Madalena.
- Eunice de Munõz (Rosário) - Gostei da
Rosário. Gostei do tratamento que ela deu à personagem. Amei o tema em que estava inserida, amor na terceira idade. Quanto à interpretação, Eunice nada me surpreende, sempre no seu melhor. Fascinante, os anos passam e a qualidade continua a mesma. Gostei do final! Perfeito! Com a
Cátia, com o homem de sempre, e com uma viagem pelo mundo!
- Ruy de Carvalho (Dionísio) - Achei interessante ingressar o Ruy na história, um homem que vem passados 50 anos à procura do seu grande amor. Quanto à interpretação, nada a dizer, brilhante. No entanto, concordei com o seu final, uma viagem com a sua irmã, mas acho que devia ficar com a
Ângela, porque nem sempre o amor vence, e poderão existir coisas bem mais importantes, como uma história de vida.
- António Montez (Teófilo) - Também nada a dizer, brilhante! Homem que sofre com a mulher, mostrando esse sofrimento de forma fenomenal. Chorava de uma maneira tão emotiva que provoca mesmo uma atenção sentimental para o que se estava a ver. Final merecido, depois de tanto esforço para o conseguir, mostrou à mulher que se pode ser feliz, independentemente da idade.
- Diogo Carmona (Bruno) - Para a idade que tem, achei fenomenal, das maiores promessas da representação em Portugal. Gostei! Aquele fascínio pelos ET's foi passado por uma ida ao cinema com uma miúda. Excelente.
- Miguel Carneiro (André) - Não sei se foi o primeiro papel em televisão, mas se foi só tenho de gabar. Gostei da sua interpretação. Esteve bem! Quanto ao final, não se sabe, foi ao cinema também. Uma disputa entre os dois amigos pela miúda? Nada se soube. Acho que deviam colocar mais uma miúda para ficar um final mais completo.
Quanto ao elenco adicional, sou da opinião que esteve bem, fizeram o que era necessário. Desse elenco destaco: Manuela Couto -
Flora; Anabela Teixeira -
Antónia; Rui Mendes - Advogado
Lourenço; Marisa Cruz -
Isabel e Pedro Granger -
Bernardo. E… "
Sem dúvidas, das melhores produções nacionais já feitas!".
NUNO CUNHAA mais recente novela de Rui Vilhena, marcadamente influenciada pelos modelos de séries norte-americanas e espanholas de sucesso, foi o tipo de programa que se adora ou se odeia. A estrutura alternativa da história, as temáticas pouco recorrentes (algumas mais pesadas), o discurso e algumas personagens fizeram desta uma novela com moldes pouco habituais, com um formato mais próximo de série. Pelas mesmas razões, não atraiu tantos espectadores como as restantes em horário nobre, chegando a ser um dos maiores flops no que toca à ficção nacional da TVI. Contudo, foram estas mesmas razões que levaram a que a novela fosse a minha preferida nos últimos meses. Penso que a inovação é necessária na ficção nacional e, para isso, há que inserir novos temas e novas histórias, em que o importante não é serem pesados, mas sim serem interessantes e com algum contexto real. A televisão feita a pensar sempre na maioria pode ser saudável para as finanças da estação mas as minorias também têm direitos relativamente à programação que é da sua preferência. Se o resultado não for abonatório, da próxima tenta-se aprender com os erros e produzir outra coisa.
A nível de personagens e interpretações destaco:- A interpretação brilhante de Paulo Pires, que distanciou bem dois gémeos de mau carácter, sendo que um assumia inúmeros disfarce (francês, inglês, espanhol, brasileiro, saloio, senhora idosa), todos requerendo uma interpretação à medida, sotaque e expressões diferentes. Penso que se existiam dúvidas quanto à sua prestação, a muitos deixaram de fazer sentido.
- José Wallenstein, no papel do crápula, obscuro e sarcástico
Leonardo. As ironias e a própria forma de falar conseguiram irritar muitos espectadores e penso que esse era objectivo. Apenas carregava muito naquela dicção, por vezes.
- Paula Neves. Ainda que não fosse a tão esperada vilã da sua carreira, fugiu ao registo das suas outras personagens anteriores, mesmo a nível de visual, o que ajudou a distanciar-se delas.
- Ana Moreira, estreante em novelas, na pele da problemática
Simone. A interpretação de uma actriz do cinema português adequou-se na perfeição à apatia e mistério que a sua personagem requeria, através do olhar, das expressões, da maneira de falar etc.
- Gracinda Nave e Lúcia Moniz. Mais duas desequilibradas (cada uma à sua maneira) que se envolveram com os gémeos. Histéricas mas racionais, apenas queriam chamar a atenção dos que as rodeavam e não apenas fazer escândalo gratuito durante toda a novela. Cada uma das actrizes interpretou um registo diferente das suas personagens anteriores, principalmente Lúcia Moniz, que sempre havia bancado a boa-samaritana e sensível.
- Na ala jovem, considero que a Sofia Ribeiro e a Sara Salgado revelaram uma grande melhoria relativamente ao pouco que haviam feito anteriormente. Eu pelo menos não dava um chavo por nenhuma aquando dos MCA e agora sou obrigado a reconhecer que os seus níveis de desempenho subiram em boa medida.
- Muitos outros actores tiveram um desempenho favorável, ainda que em papéis não tão densos ou desafiantes. Nesse sentido, destaco o António Montez, a Patrícia Tavares e a Bárbara Norton de Matos, cujas personagens ecléticas foram bem representadas neste registo de “normalidade”.
Porém, a personagem que destaco desta ficção como sendo a mais interessante, densa e bem construída foi a erguida por Luísa Cruz, a preconceituosa
Rute. Mais do que uma finesse fútil ou vazia, era em contrapartida perspicaz, inteligente, fria e nunca facilitou nada para ninguém. Ainda assim não era o protótipo de vilã. A meu ver, a sua função era mais a de mostrar a visão quadrada do mundo e das pessoas que muita gente possui, aqui e em todo o lado, nomeadamente no que diz respeito à aceitação de opções sexuais alternativas dentro de “boa casa”. Penso que foi uma personagem bem conseguida, quer pelo “esboço” do autor, quer pela interpretação da actriz.
Ainda nesta categoria, destaco agora os pontos negativos:- Algum do elenco jovem, nomeadamente Rui Porto Nunes, Francisco Côrte-Real e João Cajuda. Aos primeiros faltou-lhes frequentemente expressão, o outro tinha-a em demasia e mais uma vez não me convenceu.
- Marcantónio Del Carlo, ao qual mais uma vez calhou o papel estereotipado do senhor pacífico, ou se preferirem, o registo que tem vindo a ser habitual desde "Tempo de Viver".
- Vítor de Sousa. Para um papel quase secundário não era preciso ir buscar um actor do seu calibre. O
Carlos tinha as suas participações e intervenções interessantes, mas não passou daí. Pensei que a sua personagem e a escolha do actor iriam ser justificação para um dos mistérios da trama, mas parece que não foi o caso.
- Mina Andala: mais um caso de uma boa actriz que foi mal aproveitada, não só pela aparição tardia da sua personagem como pelo destaque que poderia ter sido maior.
- Diogo Amaral, pelo simples facto de ter sido corrido demasiado cedo, dado que nem foi dos primeiros a aparecer. O vilão até era interessante.
Na minha opinião, a personagem mais mal construída foi a que esteve a cargo de Cristóvão Campos. O
Daniel esteve demasiado excêntrico e difícil de definir; foi uma personagem dúbia em todos os sentidos, muito devido às suas atitudes e tiradas que conduziam a um perfil confuso. Quais eram os seus objectivos? Que tipo de moral era a sua? Qual era a sua relação com
Susana? Questões que ficaram por esclarecer em profundo, pelo menos para mim.
No que toca às histórias e temáticas:- Nota positiva para a trama do tráfico de órgãos. Pesada, porém actual, reflecte uma prática criminosa que, à semelhança do tráfico de pessoas (mulheres, crianças, estrangeiros etc.), está a tomar cada vez mais relevo nos dias de hoje, apelando para o cuidado a ter com os copos em bares e discotecas, assim como o envolvimento sexual com desconhecidos.
- Nota negativa para o triângulo amoroso sénior, não por deixar de achar que os idosos não têm direito ao amor e a segundas oportunidades, mas pelos contornos que esta história tomou. Ninguém aos 80 anos e com um casamento de 50 no calendário muda outras tantas 50 vezes de decisão no que toca ao rumo da sua vida. Para não falar daquele
Dionísio, que nunca tendo organizado uma vida estável, vem reclamar ao fim de todo este tempo por uma mulher, sem se levar em conta o facto de esta se ter tornado esposa, mãe, avó e bisavó. Muito surreal.
- No que diz respeito ao ritmo da acção, penso que de inicio estava lento e os núcleos não interagiam muito entre si. Porém, considero que com o tempo os núcleos e personagens foram interagindo demasiado, pelo que se o espectador perdesse um episódio, deixava de perceber porque diabo estava o
Vasco a ameaçar a família do
Rogério, ou porque foi a
Cristina viver para casa do
Teófilo, por exemplo.
- A trama em volta de
Isabel e o dilema do nascimento de
Cátia poderiam ter dado pano para mangas, no que diz respeito à parte ética/moral, como aos aspectos legais. Infelizmente, não encheu mais de 2/3 episódios.
- O mesmo se aplica à história que envolvia as personagens de Rita Salema e Francisco Côrte-Real. A ida missionária para o Afeganistão constituía a principal fonte de dramatismo para
Manuela e um motivo para assistir a um brilhante desempenho da actriz, porém foi “sol de pouca dura”.
- A nível de finais, gostei do final do
Daniel e da
Susana. Não deixou de ser surpreendente, porém algo me dizia que a relação entre os dois iria acabar num final trágico para um deles. Só não percebi como ela se livrou do cadáver e do presumível sangue que terá ficado marcado nas paredes do quarto, para poder vender a casa.
- Julgava que a
Eva iria ficar com
Jonas, mas este preferiu ceder ao amor que não conseguiu esconder da sua ex-companheira.
- A
Cátia lá ficou com os bisavós, dando mote a uma das histórias mais confusas de disputas de uma custódia de menor. Os efeitos legais foram bem apontados, porém a decisão final ficou a dever um pouco à realidade judicial portuguesa; duvido que entre os três possíveis candidatos, a tutela ficasse com os bisavós, já com a sua idade, mesmo que se encontrem em estado razoável de saúde. Digo eu.
CONCEIÇÃO PALMA“Olhos nos Olhos” foi uma novela de Rui Vilhena que, desde o início se mostrou muito rica em conteúdo. Na verdade, foram, abordados muitos temas polémicos da nossa sociedade actual, tais como a homossexualidade (
Mário e
Bernardo), transexualidade (
Germano/
Susana), crime, burla e impunidade criminal (
Victor e
Vasco, Susana e mais alguns de forma subtil), nascimentos post-mortem da mãe (
Isabel e
Cátia), doenças raras (
Simão), tráfico de órgãos (
Lorena e
Joaquim), uso de esteróides (
Gustavo), obsessões da adolescência (
Bruno e
André), pessoas que vivem acima do limite das suas possibilidades (
Augusto e
Rute). A meu ver, o tema da impunidade, falta de provas para condenação e tudo o que gira à volta disso foi um tema muito tocado durante toda a novela, de forma mais ou menos subtil, mesmo quando o tema central era outro.
A nível de audiências, esta novela ficou um bocado abaixo das expectativas, mas, a meu ver foi bastante positiva nesse aspecto, dado tratar-se de um formato novo. Na verdade, esta novela não era virada para o romance, as grandes paixões, amores de encontros e desencontros, temas aos quais os consumidores de telenovelas portugueses estão habituados. Na verdade, foram focados temas inconvenientes, nos quais muita gente não quer falar nem gosta que sejam falados, como a homossexualidade ou transexualidade e muito menos a impunidade criminal, sempre tão presente ao longo da trama. Assim, sendo, tendo em conta que se tratava de uma novela num formato quase totalmente novo, ou seja, de um desafio, considero bastante positivas as audiências que teve.
Um grande núcleo da novela é a família
Viana Levi, uma família judaica, proprietária de uma empresa de cosméticos, que atravessa uma crise financeira e que está na mira dos gémeos
Victor e
Vasco, personagens também de grande destaque nesta trama de Rui Vilhena. Ironicamente, trata-se de uma família muito dada ao mexerico e com a reputação de não saber guardar um segredo e, no entanto existe no seu seio um grande segredo há muitos anos relacionado com um anexo da residência da família e que poderá estar relacionado com a morte das esposas de
Leonardo Viana Levi, o filho mais velho da matriarca
Madalena. Na verdade, só
Leonardo, a mãe e o mordomo,
Carlos, conhecem a realidade do anexo. Este facto começa a intrigar muito
Beatriz, a sua terceira mulher, que se sente ameaçada.
No final, viemos a saber que quem se encontra no anexo é
Flora, grande amor da vida de Leonardo e que está lá em coma, ligada a máquinas de suporte à vida. Sendo que
Leonardo terá morto a primeira mulher,
Teresa, mãe das suas filhas mais velhas,
Simone e
Célia e terá tido ainda a intenção de matar
Antónia, mãe de seu filho
Miguel, que entretanto morreu na derrocada de um prédio na sequência de um ciclone que assolou Lisboa. A ideia de
Leonardo seria receber o dinheiro do Seguro de Vida a fim de comprar aparelhos de suporte de vida para
Flora. Aqui temos no final algo que ficou por explicar: onde e como esteve
Flora até à morte de
Teresa? Os aparelhos aos quais
Flora se encontra ligada foram comprados com o dinheiro do Seguro de vida de
Teresa, com a qual
Leonardo já tinha duas filhas, sendo que uma delas,
Simone, iria a conduzir o carro na altura do acidente que vitimou mortalmente sua mãe. Ora, se
Flora tinha sido dada como morta muitos anos antes, quando namorava com
Leonardo, como pode estar ligada a máquinas compradas com dinheiro recebido muitos anos depois? Terá estado num hospital durante todos esses anos e só então os médicos terão perdido as esperanças e dado ordem para que as máquinas se desligassem, ordem esta que
Leonardo Viana Levi se terá recusado a aceitar? Parece-me a hipótese mais provável, mas nenhuma indicação nos é dada sobre isso. Seria interessante se tivesse sido essa a causa, pois vir-se-ia a constatar que Leonardo estava certo ao não ter perdido as esperanças na recuperação de
Flora e que, caso os médicos tivessem continuado a acreditar, a morte de
Teresa poderia ter sido evitada. Poderia ter sido focado o facto de os médicos por vezes se poderem precipitar ao desligarem as máquinas que mantêm uma pessoa viva. A nível pessoal, gostava que o final tivesse sido este, até porque
Flora recuperou. A propósito desta recuperação, posso apenas acrescentar que achei pouco realista o facto de ela não ter precisado de fisioterapia para voltar a andar e ter começado logo a andar normalmente.
Aqui, somos confrontados com algo subtilmente muito focado por Rui Vilhena nesta novela: a impunidade, a falta de provas de acusação. Seriam realmente
Madalena e
Carlos apenas cúmplices de Leonardo na obsessão de manter
Flora viva, desconhecendo que
Leonardo tinha morto a primeira mulher e planeado matar as seguintes? É o que nos é dito, mas dá que pensar. Na minha opinião pessoal, acho que, principalmente
Madalena, sempre soube de tudo, embora não aprovasse, mas nunca terá tido coragem de denunciar o próprio filho. Algumas conversas entre mãe e filho transmitem a ideia de que
Madalena sabia mais do que no final foi dado a conhecer ao público que ela sabia. A impunidade neste caso surge ainda mais subtilmente na pessoa da madre superior do convento onde
Flora terá vivido. Na verdade, esta religiosa recebeu durante muitos anos dinheiro das mãos de
Madalena, em troca de não dar informações sobre
Flora. Estaríamos perante um caso de suborno se fosse fácil ligar as duas coisas. Porém, além de ser normal os conventos receberem doações (mesmo que sejam de judeus generosos), também ninguém é obrigado a dar informações sobre a vida de uma pessoa a um cidadão comum que aparece a perguntar… Ainda se fosse à polícia…
Ainda dentro desta família acontece um escândalo, a meu ver bastante bem retratado à luz da realidade: Sentindo-se postos de parte pela família nuclear, os cunhados
Artur e
Catarina acabam por se envolver, dando origem a uma dupla traição dentro da família. A notícia cai como uma bomba no seio familiar e a reacção dos cônjuges e família em geral foi muito realista e verosímil. É mostrado um grande sofrimento por parte dos irmãos
Jonas e
Vera. Na verdade, não se trata de uma simples traição, que só por si já seria grave, mas de um caso em que uma mulher trai o marido com o marido da irmã dele e um homem trai a mulher com a mulher do irmão dela, que era também sua grande amiga. No meio de muito sofrimento, os dois casais separam-me,
Catarina é “escorraçada” e refugia-se em casa do amigo
Simão e
Artur, por consideração a ser o pai de
Bruno, não é despedido da empresa mas transferido para o Médio Oriente, onde os
Viana Levi terão negócios. Achei muito realismo no modo como este caso foi apresentado, ao contrário do que acontece em algumas séries americanas em que quem é marido já foi sogro e o ex-marido é agora enteado e apresenta-se aquilo como a coisa mais natural do mundo, quando não é. Situações destas causam bastante sofrimento e neste caso foi isso que nos foi apresentado. Realismo é ainda apresentado na maneira como algumas personagens totalmente alheias ao assunto acusam Catarina. Na verdade, o ser humano tem a tendência de pôr em evidência os defeitos alheios, mesmo quando não lhe dizem respeito… Possivelmente, numa tentativa de desviar as atenções que possam recair sobre os seus próprios defeitos.
O desfecho dos gémeos também foi bastante bem conseguido por Rui Vilhena e, num certo sentido, surpreendeu. Se desde há muito tempo todas as evidências demonstravam que era
Vasco que estava vivo e assim se concretizou, nunca se pensou que durante quase todo o último episódio ele ainda conseguisse enganar tudo e todos, incluindo o público, fazendo querer que era o
Victor. Mais uma vez, com a intenção de sair impune, visto que, para além da morte do irmão que seria em ambos os casos legítima defesa, os crimes de
Victor se resumiam a burlas, desvios, de dinheiro, fraudes, enquanto
Vasco é acusado da morte de
Augusto, e das tentativas de assassinato de
Catarina e
Simão. Aqui tivemos uma boa “tacada” de Rui Vilhena que, pela voz de
Simão nos lembrou que crimes como fraudes e desvios de dinheiro em Portugal não são suficientes para condenar alguém.
Um paralelismo irónico igualmente bem conseguido por Rui Vilhena em Olhos nos Olhos, e que nos demonstra como o crime pode compensar e a honestidade não levar a lado nenhum, está retratado com as personagens
Mário e
Germano/
Susana.
Mário é um homossexual assumido que vive há alguns anos com o companheiro,
Bernardo, quando este morre na derrocada de um prédio. Tendo em vista que, no nosso país, o casamento entre homossexuais não é permitido e estando todos os bens em nome de
Bernardo,
Mário não tem qualquer direito à herança de Bernardo. Mesmo depois de provar por meios legais que vivia em união de facto com o falecido, a herança é entregue aos pais deste,
Rute e
Augusto, que o desprezaram há muitos anos, por ser homossexual, e que só perdem o direito a ela com a descoberta de que, ainda que fosse homossexual,
Bernardo deixou uma filha, Cátia. Em contrapartida, temos a psiquiatra bem sucedida
Susana Bastos que é detentora de um grande fortuna que diz ter herdado do marido, já falecido. No entanto, no desenvolvimento da novela, tomamos conhecimento de que
Susana é um transexual,
Germano, que só terá mudado de sexo depois da morte da pessoa que diz ter sido seu marido. Ora, se
Susana era um homem quando vivia com o falecido, nunca poderá ter havido casamento, o que torna
Susana uma herdeira ilegal, a menos que tivesse havido um testamento, coisa de que não se fala. Os modos como terá conseguido a herança terão assim sido ilícitos, demonstrando como a fraude pode compensar, ao contrário da honestidade de
Mário.
Aproveitando estes casos, Rui Vilhena poderia ter explorado um pouco mais directamente os direitos dos homossexuais em união de facto, em caso de morte de um deles. Mas penso que as pessoas já foram alertadas para a necessidade de, em uniões de facto, os bens deverem encontrar-se em nome das duas pessoas caso se pretenda que em situação de morte de uma a outra não lhes perca o direito total. Já para não falar que devia ser permitido o casamento ou algum tipo de contrato que desse os mesmos direitos, entre homossexuais.
Nesta trama é ainda apresentada
Cátia, a menina nascida depois da morte cerebral da mãe e cuja custódia gera polémica, depois de se saber que é filha de
Bernardo, o homossexual falecido. Desde a morte da mãe, a menina está entregue aos bisavós,
Teófilo e
Rosário, mas depois de revelada a sua paternidade, a avó paterna, movida pelo desejo de ter direito à herança da menina, pois é uma pessoa que pretende manter um nível de vida acima das suas reais capacidades, decide pedir a sua custódia, assim como
Mário, o companheiro do pai, que é movido pela recordação do companheiro falecido. Os bisavôs perdem mais hipóteses de ficar com a custódia da criança quando a bisavó,
Rosário, reencontra um antigo amor da juventude,
Dionísio e pondera abandonar o marido,
Teófilo, para viver esse amor depois de 50 anos. Somos aqui confrontados com a questão do amor na terceira idade. Não terá uma mulher de 70 anos o mesmo direito a refazer a sua vida que tem um de 30 ou 40? Poderemos julgar as suas atitudes? Fundamentadas em quê? Não terão todos os seres humanos os mesmos direitos, independentemente da idade? Fica mal uma mulher de 70 anos abandonar o lar para viver com outro homem? Sim, fica. Mas ficará mais mal do que se ela tivesse 30 anos? Porquê?
Neste caso, o final foi o ideal no que respeita ao que o público normalmente espera dos desfechos da novela. A custódia é partilhada pelos bisavôs e pelo padrasto (chamemos-lhe assim),
Mário, que demonstrando que não estão interessados no dinheiro da criança, abdicam dela. No entanto, o advogado Simão tem ainda a astúcia de não deixar a herança da menina entregue a
Rute e ela é deixada sobre a administração de
Rodrigo, irmão de Bernardo e tio de Cátia.
O tráfico de órgãos humanos é-nos apresentado nesta trama de Rui Vilhena através das personagens
Joaquim e
Lorena, que seduzem pessoas em bares, para posteriormente os operarem e retirarem um dos rins. Está aqui um tema que muita gente considera mito urbano mas do qual se fala e que já há provas de existência. Ainda aqui, os dois são diferentes e
Lorena demonstra bons princípios e boa conduta, garantindo que está naquele negócio criminoso obrigada por
Joaquim. Não se sabe porém que tanto poder tinha
Joaquim sobre
Lorena a ponto de a obrigar a uma coisa tão atroz. Pessoalmente, presumo que, por alguma necessidade ou deslumbrada pelo dinheiro,
Lorena tenha aceitado colaborar uma vez e a partir de então tenha ficado nas mãos de
Joaquim.
O final encontrado foi coerente, tendo Lorena partido para o Brasil a fim de denunciar
Joaquim e levar a que fosse punido. Não sabemos se terá conseguido ou não. Pessoalmente, teria gostado que ela tivesse dado notícias a
Mário ou
Simão.
Foi ainda focado o uso de esteróides na personagem de
Gustavo, filho de
Natália. Foram destacados os malefícios destes aditivos químicos. Considerei isso positivo, e embora não acredite que os jovens pensem muito sobre essa questão, acredito que os pais possam começar a pensar mais e estar com mais atenção à vida dos filhos… Mais atenção do que aquela que
Natália prestava… No final,
Gustavo parecia ter deixado de vez os esteróides, depois de várias tentativas e recaídas.
Rui Vilhena focou também as obsessões dos pré-adolescentes, neste caso, por extraterrestres,
André e
Bruno, em particular este último, eram dois pré-adolescentes obcecados pela existência de vida em outros planetas e da possibilidade de existência de criaturas extraterrestres a viver na terra.
Bruno tinha uma especial fixação em
Simão, devido às diferenças que este apresentava tanto no aspecto físico como no comportamento (não se expunha à luz solar) e que se devem à sua doença, xerodermia pigmentosa. Desdramatizando, Rui Vilhena mostrou-nos como este tipo de obsessões da pré-adolescência podem desaparecer de um momento para o outro, com o desenvolvimento natural da idade. No final, bastou uma “miúda gira” perguntar a
Bruno se queria ir ao cinema para ele deixar de lado os planos que tinha em relação a essa noite: noite em que pensava que os ETs viriam à Terra.
Através da personagem
Anabela, somos anda confrontados com a difícil decisão de trazer ao mundo uma criança com problemas de saúde e o direito que uma futura mãe tem de optar por fazê-lo. Ao princípio, desiludiu-me um pouco o facto de, no final, não termos chegado a saber quais eram os problemas do bebé de
Anabela. No entanto, reflectindo, reconheço que a intenção de Rui Vilhena estava apenas relacionada com essa decisão difícil: a decisão de levar uma gravidez adiante, mesmo sabendo que a criança terá problemas de saúde. Quais eram esses problemas não interessava para o caso. Ainda em relação à personagem
Anabela, o seu final foi curioso e muito irónico: ela acabou dona de uma empresa de empregadas domesticas que são colocadas em casa dos patrões com a finalidade de expiar a sua vida a fim de revelarem segredos aos que são no fendo os seus verdadeiros patrões. Ou seja,
Anabela, que tinha sido vítima de
Victor numa empresa deste tipo, passou de explorada a exploradora, o que é muito comum no mundo dos negócios obscuros e pouco lícitos.
Um final que achei com pouco sentido foi o final de
Daniel. Não está em causa o que a personagem merecia ou deixava de merecer, mas apesar de todas as falcatruas e comportamentos desviantes,
Susana Bastos sempre se mostrou uma boa profissional de psicologia. Ora, uma profissional de psicologia na posse das suas capacidades mentais não comete um crime tão atroz. No entanto, foi provavelmente a maneira que lhe pareceu mais viável para se livrar de
Daniel sem sujar o seu nome. Jamais se conseguiria provar que ela deixara os dois cães que atacaram
Daniel entrar em sua casa com o seu conhecimento. Poderia sempre dizer que não sabia que os cães lá tinham entrado. E não havia testemunhas em como tinha fechado a porta. Mais uma vez, á está focada a impunidade.
As doenças raras e os problemas que os seus portadores enfrentam poderia ter sido um assunto também mais debatido por Rui Vilhena. No entanto, além das dificuldades, mostrou-nos ainda os preconceitos e a falta de informação das pessoas: Quando
Simão passava na rua com o seu fato especial (atenção que não era espacial) as pessoas olhavam-no com um ar desconfiado e, por vezes, com gozo.
Quanto a personagens e actores em destaque... A nível de representação tivemos algumas excelentes como José Wallenstein e Paulo Pires. No entanto, tanto num caso como noutro, seria o esperado de dois bons actores. Assim sendo, o meu destaque vai para Luísa Cruz, que através da construção da personagem
Rute se revelou uma boa profissional da representação. A
Rute tornou-se uma personagem tão forte ao ponto das alcunhas que inventava para outras personagens acabarem por ser usadas pelo público. Tratou-se realmente de um papel em que Luísa Cruz conseguiu mostrar aquilo de que é capaz enquanto actriz. O final da sua personagem também foi à sua medida: uma pessoa tão preconceituosa, que levantava tantos problemas a nível do socialmente correcto teria provavelmente futuro a escrever sobre regras de etiqueta e, principalmente, sentir-se-ia bem a fazê-lo, certamente.
O meu desatasque negativo vai, em contrapartida, para Sara Salgado, ainda que isso me custe, pois reconheço que a personagem
Célia também não ajudou. Ao princípio, parecia que Ana Moreira também não estava a fazer um grande trabalho, mas quando a personagem o exigiu ela revelou as suas capacidades, podia ter acontecido o mesmo com a personagem
Célia, mas visto que Rui Vilhena não direccionou esta novela para o romance, a personagem
Célia tornou-se dispensável, pois de início notou-se que estava ali devido à sua paixão repentina por
Hugo, que a salvou num acidente, quando o seu carro caiu à água. Acredito que em outro tipo de papel, mais activo Sara Salgado se revelasse.
E assim terminou uma novela diferente do habitual. Sem grandes romances, sem grandes dramas humanos exagerados mas com muito mistério e, sobretudo, com muita ironia e muitos temas polémicos que dão origem a grandes reflexões, grande parte deles tratados indirectamente e em formato de tacada. Considerei esta novela como um excelente trabalho de Rui Vilhena dentro do seu estilo.
Infelizmente, o público não estava muito preparado e, além disso, não entendeu de início qual era a ideia de Rui Vilhena ao escrever uma novela como esta… Eu própria, só me apercebi que se tratava de uma novela num formato diferente depois de algum tempo. Mas acredito que próximos projectos dentro do mesmo género já sejam melhor aceites, além de que o público que acompanhou e gostou da novela por aquilo que foi merece respeito.
Valeu, Rui Vilhena, parabéns. De início, como não percebi, achei que te tinhas perdido mais mas… Na próxima vez vou estar (mais) atenta às tuas fisgadas…
BRUNO AFONSO E foi no dia 11 de Julho que chegou ao fim mais uma das novelas da TVI, e como esta nos tem habituado a grandes novelas, mais uma vez não desiludiu. “Olhos nos Olhos” contou com um excelente elenco do qual destaco Paulo Pires, Paula Neves, Irene Cruz e José Wallenstein, com uma excelente história abordando vários problemas que se encontram na sociedade, tal como a homossexualidade, doenças raras, entre outras coisas e também uma óptima banda sonora.
“Olhos nos Olhos” como uma história de Rui Vilhena não podia faltar um mistério, este prendesse com o que acontece com as mulheres do maestro
Leonardo, e o que isto tem a ver com o anexo da sua casa. Este mistério durou até ao fim da novela, sendo só nos últimos episódios que descobrimos o que verdadeiramente existia naquele anexo. Na minha opinião, embora original, houve alguma fantasia neste mistério sendo um deles como é que uma mulher em coma e presa tantos anos a uma cama, dias depois parte logo para uma viagem.
Outra das histórias principais desta novela foi a história dos irmãos gémeos (
Victor e
Vasco, protagonizados por Paulo Pires) que na minha opinião foi fantástica, muito bem elaborada, é certo que também teve a sua dose de fantasia, principalmente no fim ao um conseguir-se fazer passar pelos dois durante tanto tempo, mas esteve fantástica.
Em relação às histórias secundárias, a novela começa logo com um dilema moral, quando uma família tem de decidir se uma familiar grávida morta cerebralmente deverá manter-se viva até ao nascimento do bebé ou deixá-los os dois morrer, desligando a máquina que as mantêm vivas, ou a posição da sociedade no que toca á adopção por parte de homossexuais. Também podemos acompanhar a vida de uma transexual e os complexos que esta sofre. Todas estas histórias levam a repensar e a formar novas ideias no que toca a estes assuntos tabus na sociedade, e é aí que para mim se encontra a magia desta novela.
Muitos problemas acompanharam esta novela sendo o principal a falta de adesão por parte do público, penso que isto se deveu principalmente não há novela em si, mas à TVI que mudou o horário desta novela três vezes levando os espectadores a ficarem confusos e a perderem o fio à meada à história.
No geral gostei do fim das personagens, principalmente do
Simão onde mesmo durante o final da novela se manteve o mistério referente a ele ser ou não ser ET.
"OLHOS NOS OLHOS" TERMINA NA 1.ª POSIÇÃO DOS MAIS VISTOSO último episódio da trama de Rui Vilhena foi o programa mais visto desse dia, dia 11 de Julho, Sábado. 10.2% de rating e 40.5% de share foram os resultados alcançados no último episódio, com a TVI a ser a mais vista do dia com 27.0% da preferência dos telespectadores.